sexta-feira, 16 de abril de 2010

David entra na igreja e pergunta ao padre a origem dos santos de cerâmica que estão nas prateleiras no alto do interior da igreja. O padre responde que como nunca lhe fizeram semelhante pergunta ele não sabe responder à pergunta de David. Eis que David devolve um sorriso puro e delicado em jeito de não faz mal ao padre. David sai da igreja e um grupo de amigos, não de David, mas que conhecem David desde a infância, riem-se, e vão andando chamando-lhe estranho em voz alta. David sorri fazendo ouvidos moucos e segue caminho para o seu carro. David conduz o seu carro há dois anos da mesma forma que aprendeu enquanto estudava o código da estrada, David consegue mesmo faze-lo.
David chega a casa e como sempre está feliz por ter um lar para onde possa regressar ao final de cada dia. Entra, pousa todas as suas chaves no chaveiro que tem a forma de uma joaninha, pousando assim as suas chaves nas costas da doce joaninha. Pára e delira com o cheiro do guisado que está ao lume, brando e cor-de-laranja. Sua mãe pressente a presença do seu menino e destapa um pouco o tacho desviando o testo na oblíqua para ir ao seu encontro. Depois de todo o cheiro que ocupava a entrada ter sido inalado por David, este solta a respiração que teve a guardar todo o odor do guisado trancado em seus pulmões pelo máximo de tempo, e o puro sorriso volta a ocupar o rosto de David. David! -Exclama sua MÃE. Seguindo-se um apertado abraço, ainda nem a ressaca do abraço se tinha abatido sobre David, e um beijo celestial já estava instalado sobre a maça esquerda da face de David. Sabes o que a MÃE está a cozinhar? Guisado de carne de vaca. A MÃE faz beicinho, e David exclama: O melhor guisado de carne de vaca da Terra. A MÃE usa agora o mesmo sorriso puro que David.
Seu pai ainda não se mexeu da posição estátua em que estava desde que chegou do trabalho. A MÃE volta para o seu desejoso posto de culinária, enquanto David se coloca sob a moldura da porta e diz olá pai. Seu pai olha e transpõe um olá vazio de sentimento. David diz para ambos: -Vou tomar banho. David sobe as escadas e entra no seu quarto. Vai ter com Tomás o seu peixe laranja. Após um monólogo com Tomás, David tira todo o tecido que cobre seu torso. Senta-se na cadeira perto da secretária do computador. Agita o rato e a imagem imerge da escuridão do monitor. Vai ao histórico das suas pesquisas e clica sob uma das suas últimas pesquisas. Visualiza-a durante três minutos e levanta-se para rodar a torneira da água quente. Enquanto esta vai aquecendo o tubo, David retira o restante tecido de seu corpo. Vai ao armário e pega numa toalha branca. David entra para o chuveiro e corre a porta do resguardo. David sai húmido e passa esta humidade para a toalha. Veste uns boxers e coloca a toalha no estirador.
David debruça-se e estende o seu braço para agarrar uma caixa de sapatilhas que está debaixo de sua cama. No seu interior está um cabo preto com 1,5m de comprimento, um parafuso mão-de-capitão_gancho e uma caixa de brincos bege. David destapa um buraco no tecto feito dias antes quando não estava ninguém em casa. David enrosca o parafuso desce e agarra o cabo preto. David enfia o cabo aproveitando a forma do parafuso. Abre a caixa dos brincos e nele estão quatro comprimidos. David coloca-os dentro da boca e bebe de uma garrafa de água que estava no seu quarto há dois dias. Coloca-se em cima da cadeira da secretária e passa o cabo preto em volta do seu pescoço várias vezes terminando com um nó. David já meio zonzo baloiça e a cadeira cai.

David deixou uma última frase no seu diário:
Apenas possuímos aquilo que não perdemos com a morte, tudo o resto é ilusão.

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